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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Campeões de 62 lembram garrafadas e lamentam desinteresse pela Libertadores na época

Pepe, Coutinho e Zito relembraram momentos históricos sobre a decisão da Libertadores de 1962, entre Santos e Peñarol

Santos e Peñarol fazem nesta quarta-feira à noite o primeiro jogo da final da Libertadores de 2011. Há 49 anos, os mesmos clubes fizeram a decisão da competição sul-americana, e o time brasileiro conquistou o título em 1962. Jogadores fundamentais daquela conquista, Pepe, Coutinho e Zito conversaram com a reportagem do ESPN.com.br e lembraram momentos marcantes do duelo.

Entre memórias alegres, lances históricos e até o inusitado episódio da noite das garrafas na Vila Belmiro, os ex-atletas só lamentaram não terem conquistado mais vezes a Libertadores nos anos 60, época em que o torneio não tinha no país a mesma valorização dos dias atuais. O Peixe foi bicampeão em 62 e 63 e agora busca a sua terceira taça.

"A gente encarava a Libertadores como apenas um torneio a mais, não tínhamos a noção da importância. Foi uma pena os dirigentes terem desistido de disputar a Libertadores depois, poderíamos ter ganhado quantas Libertadores a gente disputasse com aquele time. Mas eles preferiram arrecadar dinheiro fazendo excursões fora do Brasil, pela Europa e América, ao invés de jogar e dar importância à Libertadores. Eles encheram o cofre de dinheiro e ficaram sem os títulos. Na época ninguém poderia imaginar que a Libertadores teria o reconhecimento que tem hoje em dia", contou o ex-atacante Pepe.

Após os títulos de 1962 e 1963, sobre Peñarol e Boca Juniors nas finais, o Santos foi eliminado nas semifinais em 1964 e 1965, para Independiente e Peñarol, respectivamente. Na edição de 1966, apesar de ter sido campeão da Taça Brasil no ano anterior, o Peixe preferiu não disputar para jogar amistosos em outros países, jogos que fizeram o clube de Pelé e companhia ser reconhecido mundialmente, além de ser mais vantajoso financeiramente.

"A Libertadores foi apenas mais um campeonato que a gente ganhou, não tinha essa repercussão que existe hoje", confirmou Coutinho, autor dos dois gols da vitória santista sobre o Peñarol, por 2 a 1, em Montevidéu, no primeiro duelo da decisão de 1962.
Depois de ter vencido fora de casa, bastava um empate para o Santos comemorar o título dentro da Vila Belmiro. Porém, isto não aconteceu. Ou melhor, aconteceu, mas não valeu. Uma confusão no mínimo esquisita marcou aquela partida.

O time brasileiro vencia por 2 a 1, e o equatoriano Spencer empatou para os uruguaios. No entanto, o goleiro Gilmar reclamou que Sasía teria jogado terra em seus olhos, o atrapalhando no lance. Enquanto muita discussão acontecia no gramado, um torcedor atirou uma garrafa e atingiu o auxiliar de arbitragem, que precisou de atendimento médico. Após uma longa paralisação, o jogo foi reiniciado e o Peñarol virou o placar para 3 a 2, com um gol de Sasía. Mais reclamação dos santistas, que alegaram que Calvet foi empurrado na jogada. Depois de muito bate-boca e confusão, a bola voltou a rolar na Vila. Mas o fato mais estranho ainda estava por acontecer.

Pagão empatou o confronto em 3 a 3, e torcedores e jogadores do Santos comemoraram o título nas arquibancadas, no gramado e nos vestiários. "Achamos que nós éramos campeões e estávamos comemorando. Quando chegamos ao vestiário, o González, do Peñarol, disse que o nosso gol não valeu. Primeiro, eu achei que era brincadeira, mas depois o árbitro veio avisar isso. Foi uma ducha de água fria", lembrou Pepe.

A explicação é que o juiz chileno Carlos Robles deixou o jogo continuar apenas porque temia pela fúria da torcida, caso suspendesse a partida antes da hora. Oficialmente, o duelo terminou bem antes dos 45 minutos do segundo tempo, devido às confusões, e o terceiro gol santista saiu quando o jogo já não estava mais valendo.

"O gol foi só para agradar a torcida, porque no papel isso não aconteceu", lamentou o ex-volante Zito.
Com isso, a Libertadores de 62 foi decidida apenas em um terceiro confronto, em campo neutro, no estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires na Argentina. Então, demonstrando grande superioridade e contando com o retorno de Pelé, que estava machucado e não atuou nos dois primeiros jogos, o Santos venceu por 3 a 0 e, enfim pôde soltar para valer o grito de "é campeão".

"Demos um chocolate neles na Argentina, com dois gols do Pelé e um gol contra do Caetano. Os argentinos têm os uruguaios como inimigos, então eles estavam torcendo para a gente, estávamos nos sentindo em casa naquela final", afirmou Pepe.

Nesta quarta-feira, em Montevidéu, desta vez com todas as atenções voltadas para a atualmente valorizada Libertadores, Santos e Peñarol voltam a se encontrar. No dia 22 de junho, no Pacaembu, em São Paulo, Neymar e companhia têm a chance de repetir o feito dos craques do passado, conquistarem o tricampeonato sul-americano e escreverem mais um capítulo da história do Peixe.

Confira as fichas técnicas das finais da Libertadores de 1962:

PEÑAROL 1 X 2 SANTOS
Data: 28 de julho de 1962
Local: estádio Centenário, em Montevidéu (Uruguai)
Árbitro: carlos Robles (VHI)
Público: 55.000 torcedores
Gols: Spencer (PEN), aos 18, Coutinho (SAN), aos 29 do primeiro tempo, e Coutinho, aos 25 minutos do segundo tempo.
PEÑAROL: Maidana, Juan Lezcano, Cano, Matosas, González, Caetano, Cabrera (Moacir), Rocha, Sasía, Spencer e Joya. Técnico: Béla Guttmann
SANTOS: Gilmar, Lima, Mauro, Dalmo, Calvet, Zito, Dorval, Mengálvio, Pagão, Coutinho e Pepe (Oswaldo). Técnico: Lula


SANTOS 2 X 3 PEÑAROL
Data: 2 de agosto de 1962
Local: estádio Vila Belmiro, em Santos (Brasil) 
Árbitro: Carlos Robles (CHI)
Público: 30.000 torcedores
Gols: Spencer (PEN), aos 18, Dorval (SAN), aos 19, Mengálvio (SAN), aos 36 do primeiro tempo; Spencer aos 4, e Sasía aos 6 do segundo tempo.
SANTOS: Gilmar, Lima, Mauro, Dalmo, Calvet, Zito, Dorval, Mengálvio, Pagão, Coutinho e Pepe. Técnico: Lula
PEÑAROL: Maidana, Juan Lezcano, Cano, Matosas (Gonçalves), González, Caetano, Carranza, Rocha, Sasía, Spencer e Joya. Treinador: Béla Guttmann


SANTOS 3 X 0 PEÑAROL
Data: 30 de agosto de 1962
Local: estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires (Argentina) 
Árbitro: Leopold Horn (PAR)
Público: 60.000 torcedores
Gols: Caetano, contra (SAO), aos 11 do primeiro tempo, Pelé, aos 3 e aos 44 minutos do segundo tempo.
SANTOS: Gilmar, Lima, Mauro, Dalmo, Calvet, Zito, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Técnico: Lula
PEÑAROL: Maidana, Juan Lezcano, Cano, Matosas, González, Caetano, Gonçalves, Rocha, Sasía, Spencerm e Joya. Técnico: Béla Guttmann 

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