Dados das secretarias municipais de Assistência Social e Cidadania e de Saúde de Maringá mostram que o número de crianças e adolescentes atendidos pela rede de tratamento antidrogas cresceu 110% nos primeiros 4 meses de 2011, em comparação com igual período do ano passado.
De janeiro a abril de 2010, 197 meninos e meninas de até 19 anos foram assistidos. No mesmo período de 2011, os atendimentos chegaram a 415.
Segundo o gerente das Políticas sobre Drogas Secretaria de Assistência Social e Cidadania e presidente do Conselho Municipal Antidrogas (Comad), Alex Chaves, a preocupação com este crescimento foi um dos motivos para a realização da 5ª Conferência de Políticas Públicas Sobre Drogas de Maringá.
O encontro, realizado ontem na Universidade Estadual de Maringá (UEM), reuniu especialistas em combate ao uso de drogas em todo o Estado, com o objetivo de traçar um diagnóstico sobre o problema na cidade e discutir novas possibilidades de enfrentamento da questão.
"Estamos discutindo novos rumos das políticas sobre drogas. O jeito de lidar com as drogas está mudando a cada dia, por causa dos tipos de drogas. Alguns anos atrás, a droga mais consumida era o álcool. Depois tivemos problemas com a cocaína, a maconha, e hoje temos a febre do crack, que pode se tornar uma epidemia no Brasil."
Cerca de 60% dos atendimentos feitos neste ano pela Secretaria de Assistência Social referem-se aos usuários de crack. O restante é de usuários de álcool e outras drogas.
De janeiro a agosto deste ano, foram atendidos 3.716 usuários de drogas, e a maior incidência é de crack e álcool. De janeiro a julho deste ano, a polícia apreendeu mais de 15 quilos de crack.
"São números alarmantes, de pessoas que procuram os serviços oferecidos pela prefeitura, fora as pessoas que usam regularmente drogas e que não estão sendo atendidas. E não há nada que as impeça de dirigir embriagadas ou sob efeito de drogas, causar um acidente ou uma violência doméstica", comentou o presidente do Comad.
Chaves lembra que o tratamento é "o fundo do poço", e só beneficia o usuário que se conscientiza da situação que está enfrentando.
"Por isso é importante essa discussão com a sociedade organizada, para estabelecer metas para responder a essa demanda. Deste encontro tiramos as reivindicações e propostas do conselho para o biênio 2012/2013, para traçar novas políticas sobre drogas em Maringá", informou.
A prefeitura e o Comad não têm informações sobre o número de usuários de drogas em Maringá, nem saber dimensionar o tamanho do problema.
"Não dá para dimensionar o número de usuários na cidade, mas as ruas denunciam e assustam. A gente não tem uma pesquisa que os identifique", completou.
Preocupante
7.211 pessoas foram atendidas pela Secretaria de Assistência Social por uso de drogas em 2011
7.211 pessoas foram atendidas pela Secretaria de Assistência Social por uso de drogas em 2011
Três perguntas
Lori Massolin Filho >> Casa de Recuperação Nova Vida.
Lori Massolin Filho >> Casa de Recuperação Nova Vida.
O Diário - O senhor trabalha com comunidade terapêuticas. O que são essas comunidades?
São entidades, rurais e urbanas, que atendem dependentes químicos que buscam essa alternativa de tratamento por iniciativa própria. O tratamento dura de 90 a 180 dias de internação. Essas pessoas procuram mudar seu estilo de vida, sem drogas. Há aproximadamente 155 comunidades terapêuticas atuando no Paraná. Nos três Estados do sul, temos cerca de cem filiadas à Federação da Comunidades Terapeuticas, a Fecsul, que foi criada este ano para agregar todas essas entidades.
O Diário - Quantos usuários são atendidos pelas comunidade no Paraná?
Nas 54 comunidades que existem em Curitiba e região metropolitana, há cerca de 1,5 mil pessoas atendidas. Acredito que no Paraná chegue a 3 mil usuários atendidos. No Brasil há cerca de 2 mil comunidades terapêuticas, que atendem cerca de 50% dos usuários que as procuram.
O Diário - Não dá para atender todo mundo?
O atendimento é feito num universo pequeno, infelizmente, já que as comunidade não fazem tratamento compulsório ou obrigatório. A pessoa precisa se conscientizar e querer se tratar. O universo de pessoas que usam drogas é muito maior, mas muito maior mesmo. Estamos vivendo uma epidemia do crack, da droga, da violência, e acho que as cerca de 2 mil comunidade existentes no Brasil seriam incapazes de atender a todos os casos. É claro que temos inúmeras outras entidades, modelos e métodos de atendimento. Sou diretor de uma comunidade terapêutica fundada em 1977 e sei: combater o problema da droga é como tirar água do oceano com conta-gotas. Nestes 34 anos, a coisa tem crescido de forma alarmante. Infelizmente, não vejo solução para esse problema.
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