Alexandre Nardoni e Anna Jatobá foram interrogados ontem no julgamento que deve acabar hoje
O júri do ano, acompanhado pelo país com emoção, entra no seu quinto e decisivo dia em ritmo de exaustão. Jurados, acusação e defesa vivenciaram ontem um cansativo interrogatório dos réus – Alexandre Nardoni e sua mulher, Anna Carolina Jatobá – que começou na manhã de ontem e se prolongou até a noite.
O júri recomeçou às 10h30min, com o interrogatório do pai de Isabella por parte do juiz, do promotor e do advogado. Nardoni pediu para virar em direção aos jurados (antes, ele estava virado para o juiz) e falar olhando para eles.
O pai de Isabella chorou muito ao descrever o momento em que a médica do hospital deu a notícia de que a menina havia morrido.
– Foi o pior dia da minha vida, eu perdi tudo de mais valioso que eu tinha. Perdi o chão – resumiu.
Foram pelo menos três choros do réu, frente aos jurados: quando falou que Isabella estava muito feliz na noite em que morreu, ao lembrar que a menina havia ensinado aos meio-irmãos como nadar e ao ver sentada no plenário sua mãe, Maria Aparecida Nardoni.
Nardoni disse que não viu a queda de Isabella. Afirmou tê-la deixado dormindo e ter ido à garagem buscar os outros filhos, no carro. Quando retornou ao apartamento, com o filho Pietro no colo, ajoelhou-se sobre a cama e viu a filha caída no jardim. O réu classificou de “filminho mentiroso” a animação elaborada pela perícia com a versão da polícia sobre a morte.
O réu negou discussão com Anna Jatobá no veículo. Admitiu que tinha eventuais divergências com ela, mas que eram as de um casal normal.
– Ciúme é normal em casais que se amam. Por exemplo, eu queria jogar futebol e ela não queria que eu fosse. A Jatobá fala muito alto, então, às vezes, as pessoas pensam que ela está gritando, está nervosa – descreveu.
Questionado sobre por que não socorreu Isabella, Nardoni justificou que estava em choque. Declarou ainda que foi orientado por alguém a não mexer na menina. O réu afirmou que Isabella gostava muito de ir para a casa deles e que sua mulher tratava a criança como o terceiro filho dela.
Nardoni reclamou muito da ação da polícia. Ele afirma que foi insultado seguidas vezes na delegacia e garantiu que o delegado responsável pela investigação, Calixto Calil Filho, chegou a propor que ele assumisse o homicídio culposo (sem intenção de matar) e tirasse Anna Jatobá do caso. Ele afirmou que policiais lhe disseram: “Vamos te moer na pancada”.
O interrogatório teve dois momentos duros. O primeiro foi quando o promotor Francisco Cembranelli disse que o choro do pai de Isabella “não tem lágrimas”. Em seguida, Cembranelli perguntou se Nardoni traía Ana Oliveira com a atual mulher, Anna Jatobá, porque o primeiro encontro do casal aconteceu quando Isabella já tinha 11 meses.
– Não traí – disse o réu, que terminou de depor às 16h25min.
Anna Jatobá foi impedida de assistir ao depoimento.
Mãe de Isabella foi liberada após quatro dias no fórum
Em seguida começou o depoimento da madrasta de Isabella. Em menos de 20 minutos, ela também caiu em prantos. Anna disse que as acusações contra o casal são falsas.
A madrasta de Isabella admitiu que a relação com a mãe da menina, Ana Carolina (a quem chama de Carol), era ruim. Ela disse que “Carol vivia infernizando”, mandando mensagens para o marido, Alexandre Nardoni, que acabava mostrando-as para a mulher.
Anna Jatobá reconheceu que discutia muito com Nardoni. Algo que passou depois de terem filhos.
– Eu nunca bati em ninguém. Nunca fui violenta – concluiu.
Anna Jatobá também se queixou dos policiais e relatou que eles pediram para ela falar que tinha sido Nardoni o autor da morte de Isabella.
– A delegada disse que ele tinha cara de psicopata – assegurou a ré.
Anna Jatobá admitiu ter “aumentado” e “inventado” informações no interrogatório à polícia. Como, por exemplo, ao mencionar que apanhava de seu pai. A ré disse não ter mencionado, no primeiro depoimento, que havia perdido a chave do apartamento. Questionada sobre a ausência dessa informação, disse que estava nervosa e esqueceu. O fato foi apontado pelo promotor como contradição.
A sessão foi encerrada às 20h45min, após o depoimento de Anna Jatobá. A defesa cancelou o pedido para que acontecesse uma acareação entre a madrasta e a mãe de Isabella. Ana Oliveira, que ficou quatro dias incomunicável no Fórum, teve estresse agudo diagnosticado e foi liberada para voltar para casa.
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