Região litorânea do Paraná enfrenta um de seus piores desastres climáticos. Deslizamentos mataram duas pessoas e comunidades estão isoladas
O litoral do Paraná vive uma de suas piores tragédias climáticas. A quantidade de chuvas que atinge a região desde quinta-feira tinha provocado, até a tarde de sábado, duas mortes e o bloqueio total das rodovias de acesso, por deslizamentos e quedas de pontes. Segundo o último balanço da Defesa Civil divulgado até o fechamento desta edição, haviam 6,5 mil residências danificadas, 31 mil pessoas atingidas e várias comunidades isoladas. Segundo o secretário-chefe da Casa Militar e coordenador estadual de Defesa Civil, coronel Adilson Castilho Casitas, a situação pode ser considerada um dos eventos mais críticos pelos quais o Paraná já passou.
Os deslizamentos em Antonina – onde ocorreram as duas mortes – e em Morretes foram mais fortes, mas a situação em Paranaguá também é calamitosa. A rede de abastecimento foi atingida pelas enxurradas e o município está sem água potável desde sexta-feira. Até que a situação se normalize – o que pode levar dias – a prefeitura está providenciando carros-pipas em caráter emergencial.
“Não tenho lembrança de uma situação climática que tenha causado tanta destruição”, afirmou ontem o coronel Casitas, que tem 50 anos e entrou na Polícia Militar em 1980. Junto com o governador Beto Richa (PSDB), ele fez ontem um sobrevôo de helicóptero no litoral. “Houve muitos deslizamentos, áreas que eram mata desapareceram.” Além de três helicópteros do governo do estado, outras aeronaves seriam fretadas para ajudar no trabalho de resgate e monitoramento.
Estradas
Segundo Casitas, um grande desafio será restabelecer a ligação terrestre do litoral com o resto do estado. A Polícia Rodoviária Federal orientava, desde ontem cedo, que as pessoas evitassem viajar ao litoral. Três pontes da BR-277 caíram e vários trechos da estrada foram invadidos por deslizamentos de terras. O trânsito está bloqueado desde sexta-feira e só deve voltar ao normal neste domingo. Na BR-277, a fila de 13 quilômetros é formada majoritariamente por caminhoneiros. Eles relatam que não há equipes da Ecovia, concessionária que administra o trecho, trabalhando no local e reclamam da falta de informações.
A Estrada da Graciosa também sofreu com deslizamentos e estava interrompida. A BR-376, que liga o Paraná a Santa Catarina, foi liberada parcialmente por um breve período ontem, mas voltou a ficar fechada no meio da tarde. O trajeto alternativo para essa rota, na Serra Dona Francisca, ficou engarrafado, e o período de viagem poderia chegar a quinze horas.
Por causa da falta de comunicação, ainda era difícil mensurar o tamanho do estrago causado pelas chuvas. Em Matinhos as pessoas não conseguem acessar a internet e o sistema de telefonia também estava com problemas. A rede de abastecimento de água em Morretes, feito pela Sanepar, também ficou prejudicada, por causa de problemas na rede elétrica. Mas, como chovia até o meio da tarde de sábado, as equipes tinham dificuldade para fazer os reparos necessários. As linhas telefônicas em Morretes e Antonina também foram danificadas e a comunicação com ambas as cidades ficou praticamente impossível.
Paranaguá
“Não há registros de uma chuva forte dessas aqui na região”, afirmou ontem o vice-prefeito de Paranaguá, Fabiano Elias, uma das poucas autoridades do litoral com quem foi possível conversar ontem. Segundo ele, há algumas décadas, uma forte chuva havia destruído parte da BR-277, mas a situação atual é muito pior. “Foi muita água em um curto período. E o problema é que ela foi localizada na Serra da Prata, que fica no fim da Serra do Mar, perto da planície do litoral”, relatou.
Segundo Elias, a precipitação no alto dos morros causou dezenas de deslizamentos que, além de danificarem casas e desabrigarem milhares de pessoas, destruíram duas das três redes de captação de água que atendem o município. A companhia municipal de abastecimento, Águas de Paranaguá, ainda não sabe em quanto tempo será possível normalizar o abastecimento. “Vamos analisar a possibilidade de engatar o nosso sistema na rede da Sanepar. Mas, como não para de chover nas cabeceiras dos morros, não há nem como começar nada”, acrescentou.
A reportagem não conseguiu contato com as cidades de Antonina e Morretes, as mais prejudicadas pelos deslizamentos. Das 6.588 residências destruídas, segundo a Defesa Civil, praticamente todas ficam em Morretes. Ali, 4,5 mil pessoas ficaram desalojadas (e estão em casas de parentes ou amigos) e 65 estão desabrigadas, levadas ao Ginásio Rocha Pombo. O total de pessoas atingidas na cidade foi de 25 mil.
Motoristas presos nas BRs
Os motoristas que trafegavam pelas rodovias federais tiveram de mudar os planos quando se depararam com os deslizamentos. O administrador de empresas Gilberto Veigante passou o carnaval em Florianópolis e voltava para São Paulo, mas teve de interromper a viagem em função do bloqueio da BR-376. Como alternativa, buscou a BR- 277, que também estava fechada. Sem saída, buscou um hotel em Matinhos. “Não esperava que por aqui estivesse tão grave assim. Preciso trabalhar na segunda-feira e ainda não resolvi o que vou fazer”, diz Veigante.
A família de Amélia Basso dos Santos passou a noite de sexta para sábado no carro. Ela viajava com o marido e os três filhos de Piçarras (SC) para Três Lagoas (MS) quando foram surpreendidos com o fechamento da BR- 277.
Trem
Cerca de 12 trens que fazem a ligação do Porto de Paranaguá com o restante do estado pararam de operar na sexta-feira perto do meio-dia. A previsão é que o trecho Morretes-Paranaguá seja liberado ainda hoje. O trem de turismo da Serra Verde Express, que faz o passeio de Curitiba a Paranaguá pela Serra do Mar, também está temporariamente sem funcionar: a empresa está remarcando ou reembolsando as passagens.
Para ajudar a população do litoral, estão sendo arrecadados cobertores, colchonetes, roupas e água mineral. Além da Fundação de Ação Social, a partir de hoje os donativos poderão ser entregues nas nove Administrações Regionais de Curitiba e na sede da Prefeitura. Os donativos recebidos serão entregues em Paranaguá, de onde sairá a distribuição para outras cidades atingidas.
Serviço:
Pontos de arrecadação na Rua Eduardo Sprada, 4.520, Campo Comprido, das 8 às 17 horas. Doações de colchões será na Rua Sergipe, 1.712, Vila Guaíra, Curitiba
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